R.E.P
RITMO & POESIA
R.E.P PARA QUEM?
Ritmo e Poesia para quem?
Para todo mundo.
A revista R.E.P. tem como objetivo reunir conteúdo voltado às culturas negra e periférica.
Encontra-se na arte marginal a autenticidade e expressividade que somente a vivência e a necessidade de superação de barreiras (preconceitos, mazelas sociais, injustiça) podem proporcionar. É, literalmente, a arte imitando a vida e vice-versa.
Sob os viadutos da Maranhão estão pixadas as Monalisas do renascentismo marginal.
Daqui a quatro mil anos tentarão decifrar as pichações em escombros dos prédios do centro da capital com o mesmo fascínio e paixão com que tentam ainda hoje decifrar os hieróglifos encontrados no interior de pirâmides egípcias.
É muito comum encontrar pixado em algum muro ou escombro a frase “Fora PM”. Tem um significado, uma história, um objetivo. É arte feita, PRINCIPALMENTE, para incomodar e, a partir disso, gerar a reflexão. E, a partir disso, gerar o movimento!
E o que falar dos saraus organizados por grupos de rap e hip hop em comunidades Teresina afora?
A revista R.E.P. está na mesma onda dessas tantas manifestações e não à toa: queremos – e vamos – dar a mesma voz e autenticidade que tais manifestos proporcionam.
Formado por quatro pessoas com mentalidades altamente diferentes, o nosso trabalho é inevitavelmente plural e diverso. Somos pessoas diferentes com um objetivo em comum: fazer a roda viva girar!
E viva a pluralidade e diversidade!
Mantendo o respeito, Reação do Gueto!
O grupo Reação do gueto surgiu em agosto de 2009, na grande Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina, através da iniciativa dos manos Lucas Carvalho, Dorneles França (Nêgo Doka), Rondinele Xuxão e Ricardo Xinxar com o propósito de relatar o cotidiano e a realidade que acontece no dia-a-dia das periferias, bem como denunciar o descaso por parte das autoridades em relação à exclusão em que se encontram os moradores do gueto.
Suas letras falam de temas vividos pela periferia, como drogas, crime, política, festa, sexualidade etc., e tentam alertar a comunidade para as armadilhas do sistema que se utilizam da ideologia para se manterem no poder.
Com o passar do tempo, o grupo utilizou a denominação “Família R.G.”, referindo-se as várias pessoas que se uniram ideologicamente à eles, expressando suas ideias de várias maneiras.
O grupo vem fazendo várias apresentações, já se apresentou nos festivais “Beleza Negra”, “Juventude em alerta contra as drogas”, e também do festival “Chapadão”, onde conseguiu o terceiro lugar na categoria "estudante'. Também já se apresentaram em eventos fora da capital, como em Alto Longa e na comunidade quilombola Mimbó, em Amarante, além de eventos organizados por grupos independentes.
A Revista R.E.P entrevistou os manos Doka e Lucas para saber sobre a atividade e participação do grupo no movimento rap e também na comunidade e sociedade.
Quais são os objetivos do RG?
Lucas: Primeiramente, como estamos falando de rap e hip hop, é arte. Então o principal objetivo é se expressar. Passar uma mensagem positiva pra sociedade, pra comunidade que é marginalizada. A nossa rima é uma denuncia, uma reflexão, uma mensagem para que as pessoas se sintam comovidas.
Como vocês vêm essa crescente “aceitação” do movimento rapper no meio acadêmico?
Lucas: Acho que é uma tendência acadêmica ocupar a universidade com essas manifestações da comunidade, valorizar a luta do morador da periferia. Porém, muitas das vezes o pessoal que vem das universidades para nos entrevistar tem um interesse muito pontual: faz o trabalho e nunca mais dá as caras. Já rolou muita coisa paia, mas também já rolou muita integração massa.
A universidade sempre foi uma aliada, pelo menos parte dela. É um espaço que contribui muito para a divulgação da movimentação da comunidade.
É cada vez mais comum ver rappers escrevendo livros, trabalhando com audiovisual dentre outras formas de arte além da música. Vocês tem interesse em fazer algo também além da música?
Lucas: Bom, nós tentamos trabalhar com outra linguagem. Tentamos umas gravações em vídeo, mas pecamos muito na edição, e por isso nunca saiu. Mas a literatura é um ponto interessante e nunca discutimos isso, porém temos algumas pessoas conhecidas que já estão atuando nesse cenário.
Acho interessante o Fanzine, por ser um meio independente de pós produção, uma literatura caseira, simples e rica.
Sobre a expressão “se vender”, que causa uma grande polêmica por girar em torno de um assunto muito delicado, que é a profissionalização dx musicista rapper. Como vocês pensam essa discussão?
Doka: se vender é um tema bem delicado. Há uma galera que vive só disso. Se a pessoa vê uma alternativa na sua música, uma alternativa pra se manter por que não? É algo a se pensar. Se o cara vive daquilo, por que ele não pode ir num programa? Receber um auxílio de algum órgão que ele participe em algum evento? O lance é saber se colocar nesses espaços.
Lucas: O problema hoje vem também da internet, das mídias sociais, em que você diz uma coisa e é mal interpretado e isso já gera confusão. Acho assim, que você deveria fazer seu rap, o que você gosta e respeitar o espaço do outro. Se ganhar dinheiro com arte já é difícil, imagina ganhar dinheiro com rap, que é arte marginalizada. Então, acho que os próprios rappers tem que respeitar a correria de cada um.
Acho que a grande discussão é a respeito de o dinheiro padronizar o rap. Muitas vezes, as letras perdem a autenticidade porque se inclinam para o que vende.
O que vem por aí?
Doka: Bom, depois do álbum “O que tá acontecendo”, nós já estamos trabalhando o segundo, chamado “Nordestinamente”. Vem com 18 faixas e um CD bônus que já está gravado. A gravação foi no Quilombo Louco Beats com participação do próprio e outra galera boa de se trabalhar.
Esse álbum foi bem mais elaborado, houve um investimento maior. Falta pouco para finalizar e em breve vamos começar a divulgar. Fora que ainda temos umas 20 faixas pra gravar...
Temos muitos parceiros, muita gente que trampa no mesmo ambiente, todo mundo produz. Galera do Quilombo, DAL, lourinho...
Como já diz o ditado: “Uma planta pode até viver sem dar frutos, mas ela não vive sem raiz”... Quais as influências de vocês?
Doka: Cara, como todo grupo de rap, nós começamos ouvindo facção, racionais... Daqui nós ouvíamos a galera da irmandade, Kedé, Aliado... E aí com o decorrer do tempo nós fomos conhecendo a galera e nos envolvendo com o ambiente.
Lucas: Eu curto de tudo. Desde o internacional, nós vemos os clipes gringos e nos encantamos, tipo, será se existe isso mesmo? E nacional, facção central, racionais, RZO. E a nível nordestino tem o Clã Nordestino e o Costa a Costa, sabe, nossos vizinhos que produzem pra caramba...
E a representatividade feminina? Como o grupo pensa sobre a mulher no movimento rapper\hiphop...?
Lucas: Bom, historicamente tem pouca mulher no rap. A nível do que sempre curti, tinha a Negra Li que surgiu no RZO
Doka: Agora tem muita mulher na cena Hip Hop...
Lucas: Hoje avançamos muito. Tem muitas Bgirls, muita representatividade no rap. Mas ainda sinto que rola muito machismo nesse cenário.
(Nesse momento, Karynne Silva, rapper e companheira de Doka, interviu na entrevista para falar sobre o seu lugar de fala na discussão.)
Karynne Silva: Eu to no cenário há 2 anos. Eu sempre ouvi rap, comecei com as mesmas influências e só vim conhecer o rap feminino bem depois, tipo, Dina Di, po... Dina Di é minha fortaleza, apesar de ela já ter falecido. O que ela falava era muito forte, e a mensagem continua carregada. Foi ela quem me impulsionou. Acho assim, que se as gatas se posicionarem será um passo grande para destruir o machismo presente nesse ambiente.
Doka: Tem muita mulher foda hoje, tem a Lauren, Preta Lu...
Lucas: A tendência é surgir mais, tem um trabalho da universidade que trata justamente disso, da representatividade da mulher na cena Hip Hop. Ela chega a conclusão que: se pro homem é difícil fazer rap, pra mulher é duas vezes mais, porque além de tudo tem uma luta interna contra o machismo.
O que significa para vocês reação do gueto?
Doka: Cara, reagir né, o ato de reagir já diz tudo, reação do gueto é manifestar nossa revolta contra as mazelas que a comunidade sofre há anos, há séculos: opressão policial, falta de saneamento básico, o simples direito de ir e vir, que a gente não tem... A partir de 22:00 é tipo um toque de recolher, se tu for pego na rua e se tu for preto, pobre, usando roupa folgada... Isso já é motivo pra ser suspeito. Não só preto, basta ser morador de periferia. A gente reage através da arte e da cultura, através desse veículo de comunicação chamado hip hop.
Lucas: assim cara, quando a gente fala esse nome “reação”, que é muito sugestivo. Reagir... Tava lendo umas coisas esses dias e um cara falou que hoje a gente vive uma escravidão ainda mais cruel, porque antes o corpo era preso, mas a mente era livre... Hoje é mais cruel cara, porque teu corpo tá livre, mas tua mente não né. Tu é cercado de várias formas, e quando vejo a realidade daqui, da comunidade que eu moro, da comunidade urbana de Teresina, da zona rural, cara é muito cruel, como se pode as pessoas se permitirem a viver dessa forma. É tão grotesco esse abismo que separa uma minoria de uma maioria, e como é que essa minoria pode reagir? Através de conhecimento cara. É começar a se negar a fazer parte dessa massa domesticada. Então, o reação do gueto, o gueto reagir é isso... Se o gueto não reagir, se as pessoas não reagirem, vão continuar sendo essa massa de manobra...


QUEM SOMOS

Leonardo Mendes: Graduando em Jornalismo; Pés na estrada e memórias no papel.
Leonardo Mendes: Graduando em Jornalismo; Pés na estrada e memórias no papel.

Marcus Sousa: Graduando em Jornalismo e filho dileto do som, a linguagem do universo.

Nayrana Meireles: Graduanda em Jornalismo e admiradora das manifestações culturais.

Thais Guimarães: Jornalista em constante formação; Acredita que só a luta muda a vida.
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